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Vou fundar a minha própria religião.
Vou encher o Pavilhão Atlântico e cobrar 200 euros por bilhete para que as pessoas me possam assistir ao vivo... Se pensarmos bem, nestes tempos que vivemos, de incertezas, frustrações, infelicidade e miserabilismo, as religiões são o negócio do futuro.
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Convencer plateias inteiras de pobres que estes ficam mais felizes, dando dinheiro à igreja, não é uma tarefa muito difícil. Nada que um pouco de marketing político não consiga resolver. Aliás está provado que em Portugal, o marketing faz milagres.
Na política, o governo tem alternado sempre entre PS e PSD repartindo-se entre os dois a culpa pela situação calamitosa do país. No entanto, sou capaz de apostar que o vencedor das próximas eleições será com toda a certeza, um dos dois... Tenho ou não tenho razão?!
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Uma cambada de estúpidos, por muito grande que seja, consegue sempre ser manipulada por meia-duzia de chicos-espertos que sempre se mantêm no poleiro social.
Sempre foi assim e sempre será.
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E daí que eu me tenha lembrado de, tal como Bob Proctor, fundar a minha própria religião.
Senhoras e senhores, contemplai aqui a génese do KUMKANEQUISMO. A nova religião do povo mais estúpido e adormecido de que há memória.
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Até parece que já estou a ver.
O pavilhão Atlântico a abarrotar. Pego no microfone e dirijo-me à vasta audiência enquanto esta bate palmas e chama pelo meu nome:
-"Percebam todos uma coisa muito importante... Não faz mal nenhum ser pobre! Aliás é até bom ser pobre. Existe a necessidade de existirem pobres no mundo para evitar desequilíbrios na nossa sociedade!... Nós os ricos somos o yin. Vocês são o yang! Nós precisamos de vocês!"
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O publico aplaude... A potente voz off ecoa no pavilhão dizendo:
«Ele mudou a vida de milhões de pessoas com o seu novo livro, "RICOS SÃO OS TRAPOS". E agora chegou o momento de vocês poderem fazer perguntas ao nosso Pastor Kumkaneco!»
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Um homem do público escolhido pelos seguranças pergunta:
-"Pastor Kumkaneco! Eu... eu tenho andado numa fase de pouca sorte na vida, e eu queria perguntar se era possível ajudar-me a falar com alguém do Estado... da Segurança Social, você é uma pessoa importante e com tantos conhecimentos..."
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Rapidamente interrompo e respondo:
-"Meu amigo... este é o tipo de conversa negativa, obsessiva e gananciosa que não ajuda ninguém. O meu programa - e isso está exposto no livro - irá ensiná-lo a ter uma nova visão da vida. Em vez de se queixar sobre o facto de ser pobre, aproveite! Veja televisão, o programa da Fátima, ou da Júlia! Nas próximas eleições, não vote! Quem é que quer saber disso pr'alguma coisa?! Esqueça e aproveite, seja feliz."
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E o homem volta à carga, retorquindo:
-"Mas eu sou um sem-abrigo!"
-"Não... Você está a ver mal a situação! A sociedade não lhe deve absolutamente nada! O Governo tem coisas mais importantes com que se preocupar, como as matrículas dos carros, e as portagens! Tu, meu amigo, já tens tudo o que precisas para ser feliz, portanto, goza a vida que Deus te deu!"
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E depois a voz off para finalizar:
«Adquira já o seu bilhete para assistir ao Pastor Kumkaneco ao Vivo no Pavilhão Atlântico por apenas 200 euros, pagáveis em dez suaves prestações! Reserve hoje mesmo o seu lugar!»
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