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  Conseguem-me explicar uma coisa?

  Porque é que o juiz tem de estar dois palmos e meio acima de toda a gente?

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  Mas afinal que raio é que ele está ali a fazer, que não possa descer ou estar à mesma altura que tu e eu?

  Quer dizer, neurocirurgiões, pilotos de aviões comerciais, físicos nucleares, engenheiros informáticos, todos nós estamos colocados ao mesmo nível, mas o marotíssimo juiz, não. Oh não, ele tem de estar dois palmos e meio acima:

  -"Hei... todos vocês, olhem! Eu estou a trabalhar com um martelo. Espalhem-se e dêem-me algum espaço, eu preciso de espaço pra trabalhar. Este não é um martelo qualquer, sabem. É um martelo... especial.! Trata-se do Martelo da Justiça..."

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  A única parte dificil do trabalho do juiz é ter pegar no dito martelito e bater com ele com toda a força que um juiz possa ter, encima da mesa. E dirão alguns mais relutantes, "mas ele não bate só com o martelo na mesa, ele tem de acertar na rodela que lá está colocada!"

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  Pois é, tem razão quem assim fala.

  De facto ele tem de pegar com muito cuidado e ao mesmo tempo com vigor no martelo e depois alinhar com extrema precisão pra não bater fora daquele circulo de madeira com 5 centímetros de diâmetro.

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  Realmente ele tem de fazer isso, tem...  e vendo bem a coisa, não é assim tão fácil quanto parece, isto envolve esforço físico brutal que é o de empunhar uma marreta e precisão mental pra conseguir espetá-la contra o tal círculo, coisa que não está ao alcance do comum dos mortais e que exige uma mente fascinante e superior, um curso superior de Direito e ainda umas aulitas de yoga... é sim senhor!... de facto, não é demais o espaço que ele pede. Não é, não senhor...

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  -"Meretíssimo Juiz, posso-me aproximar da bancada?" - pergunta o advogado.

  -"Sim, mas com respeitinho. Se o senhor doutor não respeitar a 'ResGestae' deste tribunal, leva com o martelo nos dedos, ouviu?!

  -"Ouvi meretíssimo, mas eu só queria..."

  -"Hei... então?!... onde é que você pensa que vai?!... Você fica aí embaixo! Apenas eu posso estar aqui encima. Não está a ver o martelo?!... Ai ai ai ai ai... pois é!... Depois queixe-se."

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